*Roberto Robadey Jr.
Uma tragédia como a do incêndio de sexta-feira, 18 de outubro, no centro do Rio, devasta famílias. Comove a população, que nos vê como heróis. Consterna os amigos de farda. Todos querem uma resposta. Mas é irresponsável e insensível sair por aí, precipitadamente, definindo causas, erros ou culpados. Esclarecer é preciso, é nosso dever e convicção. A investigação está em curso. É questão de respeito e honra aguardar o resultado da perícia.
Nossos militares não morreram em vão. Cumpriam a missão para a qual foram exaustivamente capacitados e psicologicamente preparados. Eram homens experientes e que já se colocaram a serviço da população em ocorrências de características diversas: Muzema, Museu Nacional, desabamento de edificação na 13 de Maio, entre tantas outras.
Na doutrina da nossa instituição militar, a ordem é manter a calma, com coragem e disciplina, zelando por nós mesmos, pelos colegas e pela população. Grandes operações envolvem questões logísticas “invisíveis” para leigos, tais como seleção e organização de material, revezamento de equipes, fluxo de viaturas, recursos hídricos, alimentação dos combatentes, tomada de decisões. Cada incêndio tem as suas peculiaridades.
No Curso de Especialização em Combate a Incêndio Urbano ministrado pelo Corpo de Bombeiros do Rio aos seus militares, os bombeiros têm contato com situações que podem acontecer durante uma operação, que vão desde o uso adequado e manutenção de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) ao aprendizado de técnicas de transposição de obstáculos, resgate, maneabilidade, entrada tática, escape, entre outros.
Em um incêndio em edificações, a fumaça possui características perigosas. Provoca também a redução da visibilidade, tornando desafiador o ingresso no local e exigindo do militar técnicas avançadas de movimentação no interior da estrutura. Além disso, a fumaça tem o poder de se espalhar em poucos minutos para outros ambientes. Fruto da combustão, ela gera substâncias variadas, inócuas como a água e tóxicas e mortais como o monóxido de carbono e o cianeto de hidrogênio.
Que sejam honrados os mais de 10 anos de história, qualificação, dedicação e abnegação dos militares que perderam suas vidas. Que se respeitem as famílias. Só os familiares sabem quantas vezes suportaram a ausência destes guerreiros que partiram para salvar desconhecidos. Dessa vez, não voltaram para casa.
É leviano, neste momento de dor e luto, colocar em xeque cada bombeiro que escolheu vestir a farda. É desacreditar 163 anos de história.
Para nós, para além da tristeza, é tempo de buscar respostas. Uma oportunidade para autoavaliação e evolução. Sairemos mais fortes para cumprir a nossa missão de proteger e salvar vidas.
Roberto Robadey Jr. é secretário de Estado de Defesa Civil e comandante-geral do CBMERJ