Projeto Afoxé Folia resgata a cultura imaterial de raiz africana na Baixada Fluminense 

O que tem a ver o som do agogô, o cortejo de pessoas em trajes brancos limpando a avenida antes dos desfiles de carnaval e a cultura afro-brasileira com a minha existência em Nova Iguaçu? A resposta não é simples. No entanto, é possível chegar mais perto da compreensão conhecendo o Afoxé, uma manifestação cultural afro-brasileira que se caracteriza por cortejos realizados especialmente durante o Carnaval. Para abrilhantar o período pré-carnavalesco da Baixada Fluminense o grupo se apresenta no bairro Carmari, em Nova Iguaçu, no dia 22 de fevereiro, às 16 horas. Já no dia 26, a cidade de Nova Iguaçu recebe duas oficinas de percussão do Mestre Kotoquinho. As oficinas são contrapartidas do projeto Afoxé Folia para a sociedade.

Os grupos de afoxé saem às ruas cantando cânticos em línguas africanas e tocando instrumentos como atabaques, xequerês e agogôs. O afoxé é, portanto, uma manifestação cultural afro-brasileira que combina elementos religiosos e festivos, especialmente ligados ao candomblé. No entanto, qualquer pessoa de qualquer religião é bem-vinda aos grupos de afoxé. Em Nova Iguaçu, há o Afoxé Maxambomba, coordenado por Arlene de Katendê, ponto de cultura tradicional.

A origem do termo Afoxé é variável. Para o compositor e pesquisador pernambucano César Guerra-Peixe o termo ‘Afoxé’ vem do sudanês àfohsheh, e está associado a festas profanas dos terreiros baianos. Já no Dicionário Yorubá-Português a palavra Àfọṣẹ se refere a “um tipo de culto a ifá, predição do futuro, um encantamento”. Em terceira compreensão, afoxé seria a junção de “três termos: a, prefixo nominal; fo, significa dizer, pronunciar; , significa realizar-se”. Câmara Cascudo afirma no Dicionário do Folclore Brasileiro que afoxé é um verbete definido como “os negros se trajam principescamente e cantam canções em língua africana, geralmente em nagô”.

Em alguns locais Afoxé também se refere a um tipo de culto a Ifá, predição do futuro, e encantamento. No Brasil, os afoxés estão intimamente ligados aos candomblés e são uma expressão significativa das tradições negro-africanas, especialmente na Bahia e no Rio de Janeiro.

Mas, afinal, e o que é o Afoxé Maxambomba e qual é a relação com Nova Iguaçu? Com nome que remete à um dos nomes antigos que a cidade de Nova Iguaçu teve, o Afoxé Maxambomba é um cortejo que vai às ruas seguindo a prática, entoando canções, com uso de atabaques, agogôs e xequerês e danças ligadas às tradições trazidas das nações africanas e da religiosidade afro-brasileira. O mais famoso grupo de Afoxé do Brasil é da Bahia, os Filhos de Gandhi, e existe há 76 anos. Segundo dados do IBGE do segundo trimestre de 2024, em Nova Iguaçu são cerca de 20 mil praticantes declarados (Censo de 2010). Além disso, são 843 mil pessoas com 529 mil declarados pretos ou pardos, o que justifica a possível relação ou curiosidade sobre antigos povos escravizados da África que contribuíram trazendo ou criando manifestações culturais relacionadas à religião e à raça como o Afoxé. Essa é uma das formas que muitas pessoas encontram para resgatar suas origens e apontar para um futuro mais igualitário.

Como manifestação da cultura imaterial, o Afoxé não se restringe aos seus realizadores e às pessoas negras. É um movimento de congregação, preservação e valorização de tradições que dialogam e demonstram o que é ser brasileiro, o que é ser humano na Baixada Fluminense, terra de muitas cores, povos e culturas.

Com patrocínio do Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através do Edital Folia RJ 3, o projeto Afoxé Folia é oportunidade de vivência da cultura afro-brasileira e conta, além da apresentação do dia 22, com duas oficinas de percussão com o Mestre Kotoquinho na Escola Estadual Mestre Hiram, no centro de Nova Iguaçu, e no Colégio Estadual Milton Campos, no bairro Moquetá. Com realização do CISIN (Centro de Integração Social Inzo Ria Nzambi), do Ponto de Cultura Preservando Raízes e do Afoxé Maxambomba, as oficinas serão realizadas no dia 26 de fevereiro e tem capacidade para 25 alunos em cada escola. A produção do evento é realizada por Agosto Pra Tudo Produções e Eventos Ltda; Tambores de Iguaçu Produções e Eventos Ltda; Mundus – Produções e Eventos e ONG Nacional de Tradições Nordestinas e Populares.

Arlene de Katendê é mestra da Cultura de Matriz Africana, fundadora do CISIN (Centro de Integração Social Inzo Ria Nzambi), gestora do Pontão de Cultura Articula Matriz Africana, coordenadora do Ponto de Cultura Preservando Raízes, do Conselho das Anciãs da Rede Afroambiental e do Afoxé Maxambomba. A diretora do projeto Afoxé Folia fala sobre o evento de 2025:

“Temos como objetivos levar a cultura do Afoxé para mais pessoas, quebrar o preconceito de que tudo que vem das religiões de matrizes africanas são coisas ruins. A ideia é manter e preservar nossas raízes e atingir a comunidade.”

Afoxé Folia acontece no mês de fevereiro e resgata a cultura imaterial de raiz africana para escrever um futuro ainda melhor na Baixada Fluminense.

SERVIÇO:

Afoxé Folia

Evento: Apresentação do Bloco Afoxé Maxambomba

Data: 22/02/2025, 16h

Local: Rua Lourival Tavares de Paula, Bairro Carmari – NOVA IGUAÇU (Sede do CISIN – Centro de Integração Social Inzo Ria Nzambi)

Contato: mundusproducoes@gmail.com

Oficinas de Percussão com Mestre Kotoquinho

Data: 26/02/2025

Horário: Manhã e tarde

Perspectiva: 25 alunos por oficina

Locais: E.E. Mestre Hiram e C.E. Milton Campos 

Foto: Divulgação/Vio Anchieta

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