Tutora de vinte cães e gatos, Katia Andrade consome boa parte de sua renda com os cuidados que envolvem idas a veterinários, medicamentos e alimentação dos pets. A moradora de Inhaúma, na Zona Norte da Cidade do Rio, ficou aliviada com a chegada do Castramóvel à região, que permitiu a castração gratuita de todos os seus animais. O programa RJPET é desenvolvido pela Subsecretaria de Proteção e Bem-Estar Animal, ligada à Secretaria de Estado de Saúde (SES), e já fez mais de 270 mil atendimentos, desde que foi lançado, há um ano e meio.
Considerado um dos maiores programas itinerantes de castração do mundo, o programa do Governo do Estado do Rio já realizou 60 mil procedimentos somente este ano. Um apoio extremamente importante para organizações sociais, protetores e tutores, já que uma castração pode custar cerca de R$ 2 mil eu uma clínica particular.
“Somos um estado protetor e amigo dos animais. Por meio do RJPET estamos conseguindo auxiliar os cuidadores e tratar da saúde dos pets de todas as regiões do estado. É um benefício coletivo”, declara o governador Cláudio Castro.
Há mais de 15 anos resgatando animais abandonados das ruas e em situação de maus-tratos, Kátia Andrade conta que é comum os protetores e organizações enfrentarem problemas financeiros ao arcar com o sustento dos pets, o que muitas vezes torna a cirúrgica inviável.
“Castrei mais de 20 animais no Castramóvel do Governo do Estado. O último foi Fred, que apareceu na minha porta muito magrinho, debilitado e todo ferido. Conquistei a confiança dele e curei suas feridas. Levei para castrar, em maio, no estacionamento do shopping, através do RJPET. Naquele mesmo dia decidi adotá-lo”, conta a cuidadora.
A economia feita através da castração gratuita possibilitou que outros animais pudessem ser ajudados por Kátia.
“Faço muita coisa além do meu alcance, mas é gratificante ajudar os animais. Me sinto realizada. Só aqui na porta da minha casa alimento sete animais. Faço por amor e não meço esforços para ajudar essa galerinha”, diz.
Questão de saúde pública
A castração é extremamente benéfica para a saúde dos animais, conforme explica a veterinária do RJPet, Michelle Lussac. Nas fêmeas, a retirada do aparelho reprodutor reduz infecções uterinas, como a piometra – doença silenciosa do útero que pode levar à morte. Já nos machos, o procedimento diminui a probabilidade de problemas de próstata e de câncer de testículo. É também um ato de responsabilidade coletiva, prevenindo ninhadas indesejadas, e evitando que os filhotes acabem abandonados ou em situação de maus-tratos.
“A castração diminui a quantidade de animais na rua. Eles são fofos quando pequenos, mas quando crescem, algumas pessoas jogam nas ruas. Quanto mais animais temos nas ruas, maior é o aumento de doenças. Quando diminuímos a quantidade de animais abandonados, reduzimos riscos de doenças circulantes, isso é bom tanto para os animais quanto para nós. É uma questão de saúde pública muito importante”, afirma a veterinária.
A auxiliar de serviços gerais Ana Lúcia Bezerra atua voluntariamente no cuidado dos animais abandonados do Piscinão de Ramos e participa de uma ONG de resgate de pets no Complexo da Maré. Ela ajuda a divulgar a importância da castração nos locais em que atua e comemora a oferta do serviço pelo estado.
“Eu aviso para os meus amigos que irei até o Castramóvel e recolho os animais para castrar. Trabalho o dia inteiro, mas vou recolhendo os animais para trazer para a cirurgia. Tinha veterinário que cobrava preço popular mas, mesmo assim, muita gente na comunidade não tem condições de pagar o mínimo. Gostaria que outros Estados do Brasil aderissem ao projeto”, sugere.
Referência mundial
Desde dezembro de 2021, o Governo do Estado do Rio de Janeiro oferece o programa de castração gratuita por meio do RJPET. Os castramóveis contam com uma equipe de 25 profissionais, entre veterinários, técnicos e auxiliares, atuando desde a castração até a devolução do animal para o tutor. Equipamentos itinerantes rodam os 92 municípios do estado, permanecendo em cada um deles por trinta dias.
Em um ano e meio, o programa estadual de esterilizações alcançou a marca de mais de 270 mil animais castrados, sendo considerado um dos maiores projetos de castração móvel do mundo. O RJPET fica à frente de gigantes do ramo, como a Humane Society International – Índia (HSI), que realizou 50 mil cirurgias de esterilização de cães de rua na cidade de Lucknow. Ou até mesmo da MN SNAP, programa de castração móvel dos EUA, que por meio de cirurgias de baixo custo completou mais de 188 mil intervenções.
Para os que não podem comparecer aos locais dos castramóveis, existe a opção de marcar a intervenção em uma das clínicas veterinárias conveniadas, espalhadas por todas as regiões do estado.
Animais de estimação em situação de vulnerabilidade no Brasil
O número de animais de estimação em condição de vulnerabilidade mais do que dobrou no Brasil entre os anos de 2018 e 2020. Esse é um dos resultados da última pesquisa ACV (Animais em Condição de Vulnerabilidade), realizada pelo IPB (Instituto Pet Brasil). No primeiro levantamento, que teve como ano base 2018, o número de animais em condição de vulnerabilidade chegou a 3,9 milhões no país. Já em 2020, ano do início da pandemia, esse número saltou para 8,8 milhões – um crescimento de 126%.
A pesquisa considera como ACVs aqueles que vivem sob tutela das famílias classificadas abaixo da linha de pobreza ou que vivem nas ruas, mas recebem cuidados de pessoas ao redor. Do total da população ACV, cães representam 69,4% (6,1 milhões), enquanto os gatos correspondem a 30,6% (2,7 milhões). Em 2018, cães eram 69% (2,69 milhões), enquanto os gatos correspondiam a 31% (1,21 milhão).