Presidente da Alerj entrega diploma Abdias Nascimento para a deputada Benedita da Silva

Em meio a um Plenário lotado, o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), deputado André Ceciliano (PT), entregou na noite de segunda-feira (30/5) o Diploma Abdias Nascimento à deputada federal Benedita da Silva (PT). Em seu discurso, ele relembrou a importante trajetória política de Bené, como é conhecida, e sua luta contra o racismo e a favor das comunidades do Rio de Janeiro, onde nasceu e viveu durante 57 anos, como moradora do morro Chapéu Mangueira.

“Benedita da Silva é uma mulher guerreira, lutadora, defensora da igualdade e da justiça social; referência para todos nós e um exemplo de brasileira. Tenho muita honra de ter a oportunidade de conviver com a Bené, pessoa ímpar, singular, por quem tenho profunda admiração, especialmente por seu imensurável trabalho no combate ao racismo e em defesa das mulheres e das minorias”, disse Ceciliano, que a chama carinhosamente de ‘tia’.

Aos 80 anos recém-completados, ainda se recuperando de uma cirurgia recente e da perda do filho Pedro Paulo, 58, que morreu de câncer no início de abril, Benedita da Silva fez um discurso bastante emocionado. “Minha emoção é grande. Fiz 80 anos e tenho passado momentos difíceis, mas minha responsabilidade é grande. Estou curtindo essa homenagem e não tenho como não me emocionar. Não tenho mais filhos, mas tenho filha, netos, netas, bisnetos e bisneta. Na minha casa todo mundo é bamba”, disse.

Sobre Ceciliano, a quem trata como “meu sobrinho”, Benedita comentou: “Desde a primeira candidatura acompanho o André, pessoa carinhosa, homem da cultura. O compromisso do partido é fazer crescer as suas lideranças como é o caso do André”.

A deputada lembrou que atuou no Senado ao lado de Abdias Nascimento, que foi um escritor, político e ativista dos direitos civis e humanos do povo preto. “Foi ator, grande pintor e fundou o teatro negro, junto com Ruth de Souza. Todos nós, militantes, considerávamos o nosso zumbi. Era aguerrido, radical, transparente em defender o que queria. No Senado, chamava os orixás e começava a bater o tambor dele”,

Ex-deputada estadual e ex-vereadora, Jurema Batista, que foi assessora de Benedita, destacou sua generosidade e agradeceu por ajudar em sua carreira política. “Ceciliano tem essa visão, sabe o significado de Benedita para essa história, de ter uma mulher preta no Parlamento, para vencer o racismo, a intolerância religiosa, os direitos humanos”. A vereadora Tainá de Paula também reconheceu a grandiosidade da deputada e destacou sua força política para alavancar outras lideranças negras, especialmente mulheres.

A defesa da igualdade religiosa por Benedita foi outro ponto abordado no evento. Na mesa, lado a lado, estavam o pastor Oliver Costa Goiano e o babalorixá Dailton Moreira de Ogum, que discursaram contra a intolerância religiosa. Benedita é filha de mãe de santo, mas optou pela religião evangélica há mais de 40 anos.

O pioneirismo de Bené à frente de causas que hoje são consideradas atuais, como a luta pela diversidade e contra o racismo, também foi lembrado por diversas pessoas que discursaram no evento. Também participaram da mesa a secretária nacional de Mulheres do PT, Anne Moura, a professora Eudésia Alves de Medeiros.

Marido de Benedita, o ator Antônio Pitanga, de 83 anos, contou como conheceu a companheira, ainda nos tempos em que ela atuava como professora na comunidade do Chapéu Mangueira, e falou de sua admiração por ela, como referência ao lado de outras grandes figuras femininas da história contemporânea. O músico Serjão Loroza arrancou risos da plateia e provocou reflexões ao falar do papel de Benedita na política como representante do povo preto.

A pequena Manuela, representando os outros bisnetos Luca e Bento, emocionou a plateia com a simples declaração de amor à Benedita. Ao final da cerimônia, a homenageada puxou uma salva de palmas para o ator Milton Gonçalves, de 88 anos, que faleceu nesta segunda-feira (30/05), vítima de complicações de um AVC. O evento foi encerrado com um coquetel com direito a bolo e parabéns pelos 80 anos de Benedita.

Trajetória de Benedita da Silva

Benedita iniciou sua trajetória na Associação de Favelas do Estado do Rio, tendo sido voluntária na alfabetização de adultos e jovens da comunidade. Nunca deixou de estudar e, aos 40 anos, concluiu os cursos de Serviço Social e de Estudos Sociais. Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores, em 1979, como uma oportunidade de as mulheres negras e pobres lutarem de forma organizada por seus direitos. Em 1982, já articulada com os movimentos comunitários, foi eleita a primeira vereadora do PT e também a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na Câmara de Vereadores da cidade do Rio de Janeiro.

A eleição de Benedita para deputada federal, em 1986, foi o reconhecimento de sua atuação em defesa das mulheres, da igualdade racial, da trabalhadora doméstica, das minorias, e dos moradores das comunidades. “Ela manteve a coerência em todos os mandatos e cargos que assumiu, seja como vereadora, deputada, senadora, governadora do Estado do Rio, ministra de Desenvolvimento Social do primeiro governo do então presidente Lula, e secretária estadual de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio”, destacou Ceciliano.

Como governadora do Rio, em 2002, numa decisão inédita, Benedita nomeou 20% de negros para o primeiro escalão de sua equipe. E implantou, também, a lei de cotas nas universidades públicas estaduais, que foi prorrogada por mais 10 anos pela Alerj, em 2018. Eleita novamente deputada federal, em 2010, foi escolhida para ser a relatora da Proposta de Emenda Constitucional que ampliou os direitos das trabalhadoras domésticas.

“Do movimento comunitário do Chapéu Mangueira aos mandatos políticos que exerceu – passando pelos difíceis tempos de infância em que teve de trabalhar vendendo limão e amendoim nas ruas da cidade para ajudar seus pais a sustentar uma família com 14 irmãos -, Benedita sempre se manteve firme no seu propósito: lutar por uma sociedade mais justa e democrática. Nós nos sentimos honrados em poder homenageá-la. Sua trajetória de vida é um exemplo”, finalizou Ceciliano.

FOTO Thiago Lontra

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