Localizado às margens da Rodovia Presidente Dutra, KM 175, em Nova Iguaçu, um prédio de cinco andares, pintado de azul e “tatuado” com camadas do xarpi carioca, avança em desuso há pelo menos 20 anos. Ícone da Baixada Fluminense, a construção que chama atenção por sua relação tão familiar e ao mesmo tempo tão desconhecida com quem vive ou passa regularmente pela região, acaba de se tornar personagem do filme documentário @postopredio13 – MEU NOME É UNIÃO com direção de Josy Antunes, 29 anos.
O filme tem direção executiva de Rebecca Joviano, coordenação de produção de Luana Pinheiro e coordenação de pesquisa de Danielle Ferreira. Sandro Garcia e Cíntia Lima assumem respectivamente como 1.º e 2.º assistente de direção. Já a direção de fotografia tem Mazé Mixo, no núcleo 1, e Paulo China, no núcleo 2. A montagem será feita por Renato Vallone. E a edição do longa também é de Josy, idealizadora do documentário.
Nascida e criada em Belford Roxo, cidade vizinha de Nova Iguaçu, a história de Josy e do misterioso prédio se cruzou desde a juventude. “Diariamente cruzava a fronteira entre as duas cidades dentro do ônibus 205, que passa pelo Posto 13, até que um dia, o ônibus passou por um outdoor que anunciava inscrições abertas para um curso gratuito de cinema” relembra a cineasta que aos 17 anos cursava o Ensino Médio e experimentava o que seria seus primeiros passos na indústria do audiovisual brasileiro na Escola Livre de Cinema (ELC), em Nova Iguaçu.
“E eu me matriculava em todos que eram compatíveis com minha agenda de secundarista. O que me motivou a ter a ideia desse projeto foram minhas raízes na ELC e a participação de um projeto chamado Jovem Repórter da Prefeitura de Nova Iguaçu. Foi lá que aprendi a ter o olhar apurado para tudo, a olhar para uma coisa e não ver só o óbvio, mas olhar com curiosidade querendo revelar mais” disse.
Mas a ideia de narrar histórias ambientadas dentro e fora do antigo Hotel União só surgiu com força recentemente. “Eu estava com insônia e passeava pelo feed do Instagram quando vi uma série de fotos do Posto 13. Eu já era apaixonada pelo prédio. Fiquei encantada com os cliques, porque elas mostravam ângulos que eu não estava habituada a ver”, contou.
Josy expandiu sua ideia para além do próprio olhar em relação ao edifício, depois que um post seu sobre a criação do perfil no Instagram @predioposto13 viralizou no Facebook. Isso a fez entender que o interesse pelo prédio e a memória afetiva que havia construído desde a infância, não era só sua. E esse foi o ponto inicial para que a cineasta começasse o trabalho de um curta-metragem. Que logo mais tornou-se um longa.
“Passei a pesquisar por mais imagens usando recurso de localização. E as pessoas começaram a surgir enviando imagens e relatos carinhosos sobre memórias relacionadas ao prédio. Chamei minha amiga Danielle Ferreira, que têm formação em Ciências Sociais, para me ajudar a iniciar uma pesquisa. O foco era unicamente resgatar essas memórias e costurá-las num curta-metragem. Chamei também o Azis Gabriel, para nos ajudar a documentar o processo e para que tivéssemos uma presença masculina na equipe, garantindo que nos sentíssemos mais seguras ao circular pelos arredores do Posto 13.”
O fato é que muito embora seis das 13 cidades que compõem a Baixada Fluminense sequer tenham salas comerciais de cinema, inclusive Belford Roxo, a região é berço de talentosos profissionais envolvidos com o cenário audiovisual brasileiro. Não demorou muito para que amigos interessados se colocaram à disposição. E assim a jovem montou uma equipe preparada para gravar o longa-metragem.
“Há cerca de 30 dias, tudo que eu tinha era uma câmera, um microfone de lapela e a confiança e apoio de dois amigos. Hoje conto com uma equipe de 28 pessoas, equipamentos profissionais de cinema, um time de pesquisa trabalhando full time, a autorização pra filmar dentro do prédio, e um sono acumulado de duas semanas praticamente sem dormir” afirmou sem esconder seu contentamento.
Josy explica ainda que o objetivo de tornar o projeto @predioposto13 realidade vai além de costurar narrativas para contar a história do antigo Hotel União. Ela e toda sua equipe se preparam para uma articulação e mobilização para que o prédio se torne um polo cultural com diferentes linguagens artísticas para atender a comunidade da Baixada Fluminense. “O Sandro é um jovem cineasta de Belford Roxo e faz parte do BaixadaCine, um coletivo premiado e que realiza, entre outras coisas, o cineclube Velho Brejo que acontece no Centro Cultural Donana. E ele veio com a ideia de revitalizar o prédio para transformar ele num polo de cultura. Lembro de dizer para ele ‘vamos abrir uma escola de cinema nesse prédio, essa é a meta a partir de agora, lá será a sede do BaixadaCine. E eu não estou aceitando menos do que isso’. Então vamos trabalhar para fazer acontecer”, completou.
Gravações @postopredio13 – MEU NOME É UNIÃO
Entre os dias 4 e 8 de março, das 9h às 17h, Josy Antunes e sua equipe estarão de plantão diante do antigo Hotel União para gravar depoimentos voluntários e espontâneos de todos que quiserem contar suas memórias afetivas sobre o prédio, baixadenses ou não. O chamado tem sido feito pelas redes sociais.
Além do protagonismo do prédio como referência de território familiar, que mistura em um só lugar o vazio físico tão cheio de história e envolvimento, o projeto abordará ainda outros pontos interessantes, como por exemplo, o movimento xarpi carioca, que fez do prédio um templo da pixação.
Equipe formada por mulheres periféricas e cozinha vegana
O projeto @postopredio13 – MEU NOME É UNIÃO conta com uma equipe de 28 pessoas, sendo que 16 são mulheres, além da diretora, a terceira assistente da direção e os departamentos de pesquisa, produção executiva e produção, comunicação, jurídico e arquitetura são liderados por mulheres. Soma-se à elas 12 homens. Todos os integrantes da equipe são de origem periférica, em sua maioria, da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro. É importante destacar que o sexismo ditava quem tinha o direito de passar pela porta da frente e sob quais condições. Homens eram bem vistos. Já mulheres não. A equipe feminina comemora o fato de serem recebidas pela porta da frente. Outra questão que merece destaque nesse set de filmagem é o número de mulheres mães. E o acolhimento que está sendo preparado para seus filhos. A alimentação da equipe deverá ficar a cargo um negócio de família da cidade de São João do Meriti de culinária vegana, uma das bandeiras levantadas também pela diretora do projeto e membros da equipe.
Financiamento coletivo
Para pagar as despesas básicas do filme @postopredio13 – MEU NOME É UNIÃO que é uma produção de baixo orçamento, está aberta uma campanha de financiamento coletivo que segue até 8 de março, dia de encerramento das gravações. O valor arrecadado será usado para cobrir demandas essenciais como alimentação, deslocamento da equipe, ajuda de custo para passagem dos entrevistados, compra de HDs externos para armazenamento do material filmado, material gráfico e para remunerar a equipe apenas da etapa de produção que acontece entre os meses de fevereiro e março. São estimadas 3 metas.
1- Produção de guerrilha: Um valor só pra cobrir o básico. O suficiente pra não botarmos a mão no bolso, mas continuar passando perrengue lindamente. Equipe recebendo ajuda de custo. Valor: R$ 62.545,00;
2- Produção independente: Um valor que cobre o básico e ainda dá um pagamento razoável para a equipe, porque artista também paga boleto. Valor: R$ 126.100,60;
3- Praticamente uma produção hollywoodiana: Um valor que cobre o básico e remunera a equipe de forma justa. Seria um sonho? Valor: R$184.904,80.
É um prédio que chama atenção por ser uma imagem marcante daquela paisagem: abandonado, com 5 andares e cheio de pichações. O tempo de existência deste , evidentemente esta carregado de histórias que será resgatada com este documentário. Parabéns.
Que maravilha de projeto.
Lembro a anos atraz.que o hotel União funcionava a todo vapor .já estive nele .O trabalho que vocês estão fazendo é fantástico. Muito sucesso e parabens
Minha opinião é que achei que esse documentário, essa preocupação com o Hotel Uniao nunca fosse acontecer. Eu moro no bairro da Prata ha 34 anos, desde que nasci. Vi como era antes da violencia de 1993 até 1999. Hoje o bairro tem boa segurança. Vi como as ruas do posto 13 e Prata enchiam d’água quando chovia, principalmente a atual Carlos Ribeiro da Costa, antiga Rua Genoveva. Lembro – me das escolas que tinham aqui que eram referencia, o Instituto Efucacional Santa Inez com sua banda marcial que disputava concursos no estado e interstadual e ganhava. Ganhava troféus, certificados. E sua banda que desfilava nas ruas do bairro e até o centro de belford roxo no 7 de setembro. Isso de 1990 até 1998. E o luna park inaugurado em 1989 do mesmo dono do tivoli park da lagoa. Ficou no bairro perto do hotel ate 1992. Era uma época cheia de luzes do park acesas à noite e dos 3 hoteis do posto 13. Época de magia. Só dei por conta que o hotel União faliu em 2005. Quando levava meu carro pro eletricista alu no posto 13 mesmo. Tentei saber o porque, tentei ver porque não reformavam o hotel, apagavam as pixacoes. A cada ano que passava, ele ficava mais arruinado. Antes as janelas tavam quebradas, hoje nem janelad tem mais. Tiraram o letreiro. Me perguntava porque ninguem fazia nada por ele, e tambem quanto seria pra reforma-lo. O fato é que ele é regerencia turistica em nova Iguaçu, assim como os outros dois, o trevo hotel e o hotel posto 13.
Devagar o bairro está voltando a se reerguer. O posto de gasolina em frente a antiga fabrica de papel River( que hoje foi comprado pela igreja maranata) tambem esta pronto pra voltar a funcionar, assim não preciso ir até o posto 13 pra pegar gasolina pro meu fusca. O Luna Park tá recentemente pintado o muro e a grade de preto. Ou seja, vai surgir algo novo. A antiga river, estava a venda, tanto o lado da fabrica como o da venda de papeis o galpao onde dividia espaço com uma autorizada de baterias de veiculos. Eu tentei juntar dinheiro pra comprar a river e fazer ela funcionar de novo os dois lados, comprar e reformar o posto, comprar o terreno do park e fazer de novo o luna park e reformar o hotel União. Sem falar que o deposito de gás nacional gas butano, referencia no posto 13 tinha falido, tava à venda e voltou a funcionar. Essa é a minha historia do bairro. Meu nome é Eliézer, 34 anos, sou iguacuano de coração, nascido e criado no bairro da Prata. Em breve casado com minha namorada Rita de Cassia Correa.
O iesi ganhava festivais com sua banda.