Quando um filho está a caminho, toda a família se transforma. A chegada do novo integrante exige planejamento, gerando expectativas e ansiedade. Se o parto ocorre antes da 37ª semana de gestação, é preciso atendimento especializado. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde, entre 10% a 11% dos bebês nascem prematuros nas maternidades da rede, que adotam cuidados humanizados e não-farmacológicos para aumentar as chances de sobrevida. Estas práticas são incentivadas na campanha Novembro Roxo, que este ano aborda “Pequenas ações, GRANDE IMPACTO: contato pele a pele imediato para todos os bebês, em todos os lugares.”
Com a maior rede UTI neonatal da rede pública e da privada, o Hospital Estadual da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, se destaca pelo atendimento humanizado a gestantes, mães e bebês, principalmente, em seus 53 leitos da UTI neonatal. A unidade é a primeira da rede estadual totalmente especializada em gestação de médio e alto risco. Este ano, já realizou 3.378 partos cirúrgicos e vaginais, além de 41. 518 consultas, encaminhadas pelo Sistema Estadual de Regulação (SER).
As técnicas aplicadas contribuem para uma recuperação mais rápida e a redução do tempo de internação dos recém-nascidos. Entre elas, o método Canguru, que permite pelo menos uma hora do bebê em contato com o calor do colo dos pais, logo nos primeiros momentos de vida. A prática reduz o estresse, as taxas de infecções e estimula a amamentação.
– Os bebês prematuros são pacientes delicados e precisam ser olhados de forma individualizada. Quando nasce um bebê prematuro, toda a estrutura familiar é afetada, e é necessário um atendimento direcionado aos pais também. Dentro de uma UTI neonatal, há os cuidados necessários que devem ser cumpridos por toda equipe. Mesmo após a alta hospitalar, os bebês prematuros ainda precisam de atendimento com diversos especialistas e aqui, no Hospital da Mulher, nós realizamos esse acompanhamento. A maioria dos prematuros continuam sendo atendidos por cerca de dois anos – explica a coordenadora de maternidades da SES-RJ, a pediatra neonatologista Roberta Serra.
Há quase dois meses, a depiladora Débora de Almeida, de 44 anos, acompanha, diariamente, a recuperação da filha Maitê na UTI do Hospital da Mulher. Ela é uma das hóspedes da Casa da Mãe, residência oferecida às puérperas que estão com bebês internados e que moram a mais de 50 km de distância da unidade. O local – com cinco quartos, 15 camas, copa, cozinha, sala e banheiros – permite que as mães fiquem mais tempo com seus filhos.
– Cheguei aqui com um quadro de pressão alta grave e já fiquei internada direto. Após alguns dias, minha menina nasceu. Fui muito bem atendida, desde a minha entrada aqui na unidade. Agradeço aos médicos, às enfermeiras, aos técnicos e, em especial, ao atendimento de assistência social e psicológico, pois é muito importante para nós que temos um filho prematuro e enfrentamos os dias na UTI acompanhando nossos bebês – conta.
Mesmo dentro da incubadora, o acolhimento é uma constante para os bebês. Para isso, a equipe multidisciplinar utiliza o polvinho de crochê, cujos tentáculos simulam a sensação de estar envolto no cordão umbilical. Na hora do sono, a rede que fica na incubadora proporciona um balanço suave, como o movimento no útero da mãe. É a hora em que se reduz a luminosidade do ambiente e a equipe evita fazer intervenções. O descanso segue ao som de clássicos de Mozart, que favorecem a neuroplasticidade do cérebro. O banho também é especial, com imersão num ofurô, que acalma e aquece o bebê.
O estímulo à amamentação, que é fundamental para os que não nascem a termo, também conta com técnicas inovadoras. Os que ainda não podem mamar recebem a colostroterapia: que molha a boquinha do bebê com o colostro, leite dos primeiros dias, muito rico em anticorpos. O hospital mantém ainda um serviço de Banco de Leite Humano (BLH). Quando ocorre a alta hospitalar, a família continua sendo acompanhada pela equipe da unidade, que conta com especialistas como neuropediatra, oftalmologista, cardiologistas, entre outros.
Embora o número de partos prematuros venha caindo, o Brasil ainda ocupa a terceira posição do ranking mundial. Em média, 340 mil bebês nascem antes das 37 semanas de gestação no país, ao ano. As principais causas do nascimento antecipado são a ruptura prematura da bolsa, pré-eclâmpsia, infecções uterinas, fertilização in vitro, hipertensão crônica, entre outros fatores. Hoje, com o avanço dos tratamentos, mesmo crianças que nascem com menos de 400 gramas conseguem sobreviver e levar uma vida normal. Mas o parto fora de hora pode causar doenças respiratórias, hemorragias cerebrais, infecções, problemas pulmonares, neurológicos, cardíacos, renais e hepáticos, entre outros comprometimentos da saúde do bebê.
A superintendente de Unidades Próprias e Pré-Hospitalares da SES-RJ, a obstetra Penélope Saldanha, ressalta a importância do acompanhamento pré-natal para assegurar a saúde da mãe e do bebê.
– É importante que o pré-natal seja realizado ainda no primeiro trimestre da gestação para poder identificar precocemente os fatores que podem levar a ocorrência de uma prematuridade. Lembrando que um parto antecipado pode acontecer espontaneamente ou por conta de indicações ou complicações tanto maternas quanto fetais. Ainda durante o pré-natal é essencial identificar infecções e cuidar da saúde odontológica. Além disso, temos o exame de ultrassonografia e os cuidados para as mulheres que são hipertensas e diabéticas – declara.
Maternidades recebem investimento do Governo do Estado
Além do Hospital da Mulher, a rede estadual de saúde possui outras três maternidades especializadas no atendimento humanizado: Hospital Estadual da Mãe (HMãe), em Mesquita; Hospital Estadual Azevedo Lima (HEAL), em Niterói; e Hospital Estadual Estadual dos Lagos – Nossa Senhora de Nazareth, em Saquarema. Vale destacar que essas três unidades são hospitais de “portas abertas”, que aceitam pacientes ao darem entrada pela emergência e contam com UTIs neonatais.
O Governo do Estado valoriza e investe na melhoria da qualidade desse atendimento. Somente em 2023, estão sendo aplicados R$ 36 milhões por mês nas maternidades da rede estadual, além do investimento de R$ 8 milhões em obras de modernização. No ano de 2022, foram destinados R$ 450 milhões no atendimento especializado a mães e bebês fluminenses.
Fotos: Rafael Wallace