Mulheres na política municipal: um desafio da representatividade

Por Almeida dos Santos 

Mais uma vez a Galeria de Vereadoras permanecerá intacta. No espaço reservado aos retratos das mulheres que passam pelo parlamento municipal, nenhuma foto nova será colocada, ao menos nos próximos anos. Os rostos de mulheres que lá estão, permanecerão. Não surgiu uma nova imagem ou a repetição de uma vitória, como poderia acontecer com a Renata Magalhães (PP), por exemplo, que já foi vereadora e tem o seu retrato na Galeria Feminina da Câmara. Mas ao concorrer este ano, obteve apenas 167 votos. Muito distante da quantidade para se eleger.

Entre as mulheres que concorreram, a mais votada foi a Cristina Mel (PL), que conquistou 1.413 votos, mesmo recebendo do PL, o seu partido, o montante de R$ 190 mil para campanha. Cristina Mel não é estreante na política. Em 2022 disputou o cargo de deputada federal pelo União Brasil. Nesta eleição obteve 23.936 votos, mas também não entrou. Aqui abro um detalhe importante: Cristina Mel é um ícone da música gospel e fez sucesso conquistando, inclusive, a indicação em 2007 ao Grammy Latino. Mas nem este curriculum vitae lhe garantiu uma vaga na Câmara.

Ainda no rol das mulheres que disputaram um espaço no Poder Legislativo Municipal, consta o nome da ex-deputada estadual, ex-vice-prefeita e ex-prefeita de Nova Iguaçu, Sheila Gama, que concorreu pelo PSB. Antes da eleição o nome da professora, por ter passado por cargos tão importantes e elevados, chegou a ser cogitado como bem votado. Após a apuração, verificou-se que Sheila Gama alcançou 215 votos, mesmo com o marido Aluísio Gama concorrendo ao cargo de prefeito. Talvez nem tenha recebido os votos daqueles que um dia pertenceram ao seu gabinete.

Feitas as apresentações das mulheres que estiveram no poder ou mesmo tiveram a expectativa do “prestígio eleitoral”, notamos que nomes considerados fortes ficaram de fora, passando ao longe do número de votos necessários para conquistarem uma uma vaga no Poder Legislativo Municipal. Olha que estamos falando da disputa por um dos assentos na Câmara de Nova Iguaçu que saltou de 11 para 23 cadeiras. Mas que dobrou, mas não entrou uma mulher.

Enquanto não aparece uma nova mulher na política legislativa, por enquanto teremos que render homenagem àquelas que, quando nem se falava tanto de mulher na política, cada qual, à sua forma, viveu a conquista de passar pelo Poder Legislativo Municipal. São elas e os seus respectivos mandatos:

Carmelita Brasil Monteiro (1947-1950), Maria Ivete Pantaleão (1983-1988), Rosely Fonseca de Souza (1989-1990 e saiu para ser deputada estadual), Margareth Moraes (1889-1992/1993-1996), Maria José de Souza (1994-1996), Diva Bastos (2005-2008), Marly Freitas (2005-2008/2009-2012), Rosângela Gomes (2005-2008/2009-2011 e saiu para ser deputada), Nicolasina Acarisi (2009-2012), Vilma Aguazul (2009-2012), Gianne Jura (2013-2016) e, por última, Renata Magalhães (2017-2020).

Feitas essas considerações, cabe uma reflexão profunda. Tentar achar um culpado em uma deficiência coletiva é o mesmo que trocar culpas e não avançar nas propostas. Sejam os movimentos sociais ou institucionais, seja lá o quem for, é difícil atribuir com exatidão um culpado para esta falha. O certo é que, uma questão como essa, tão arraigada na nossa política, só será combatida com o implementar de uma nova visão e comportamento cultural do pensar a mulher na política. E o governo municipal, é claro, é um dos entes que deve estar envolvido. Mas ressalto que esse é um assunto que ultrapassa as competências de uma administração pública municipal. É de todos, inclusive dos movimentos do empoderamento feminino. É uma política constante que não deve ser discutida somente em ano eleitoral. O que temo é que este artigo, escrito em 2024, seja repetido em 2028. E se não mudar o rumo das coisas, será! 

Almeida dos Santos é jornalista

Foto: Jorge Ferreira/Divulgação

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