O Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione (IEDE), coordenado pela Secretaria de Saúde, é uma das nove unidades habilitadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a prestar atendimento a transgêneros em seu setor de Disforia de Gênero. A unidade, localizada no Centro, oferece tratamento hormonal e acompanhamento pós-cirúrgico a pacientes que queiram passar por processo transexualizador.
Uma equipe de profissionais qualificados, que inclui psicólogo, psiquiatra e assistente social, além de outras especialidades, é responsável por realizar uma avaliação criteriosa auxiliando o paciente que apresenta incompatibilidade de gênero, caracterizada pelo não reconhecimento do próprio corpo em relação à identidade, seja masculina ou feminina. Atualmente, aproximadamente 500 pacientes passam por tratamento ambulatorial pré e pós cirúrgico no Iede.
“A procura tem sido grande. Temos recebido em torno de 80 pacientes por ano. São dois pacientes novos por semana e existe uma fila com talvez mais de 200 pacientes. Somos o único centro no Rio de Janeiro para atendimento ambulatorial. É o endocrinologista que faz a avaliação clínica e institui a terapia hormonal cruzada. Fazemos a prescrição dos hormônios, a solicitação de exames complementares, entre outras atividades”, explicou a chefe do serviço de Endocrinologia e coordenadora do ambulatório de Disforia de Gênero, Karen Seidel.
Segundo a médica, o processo transexualizador acontece em etapas. A primeira é o uso de hormônios, depois há a etapa cirúrgica, que inclui procedimentos como a tireoplastia (retirada do Pomo de Adão), colocação de prótese de silicone, retiradas de útero, ovário, entre outros, até a cirurgia de redesignação sexual.
Para ser atendido no ambulatório, o interessado precisa ter um encaminhamento médico ou de algum profissional de saúde mental e procurar um serviço municipal de saúde. Constatada a indicação do tratamento, o paciente é inscrito no Sistema Estadual de Regulação para que seja feito o agendamento no instituto. Após dois anos de tratamento hormonal, o paciente é avaliado pela equipe multidisciplinar que emite um laudo que pode, inclusive, referenciar o paciente para a cirurgia de redesignação sexual, se considerá-lo apto e for de interesse do paciente. Após o procedimento cirúrgico, realizado no Hospital Universitário Pedro Ernesto (Uerj), o Iede realiza o acompanhamento do paciente por, pelo menos, mais um ano.
Direito LGBT
Erick Freitas descobriu que a unidade estadual possuía um setor de Disforia de Gênero pela internet. As mudanças físicas foram rápidas a partir do tratamento hormonal iniciado no Iede. A vontade de buscar a identidade de gênero masculina – ele nasceu mulher – foi se intensificando até que decidiu realizar a mastectomia (retirada das mamas). A cirurgia ainda não aconteceu, mas ele está mais feliz.
“Desde julho de 2018 faço tratamento hormonal. Mudanças como o crescimento de pelos e voz mais grossa já ocorreram. Parava na frente do espelho e pensava: ‘eu não estou satisfeito comigo. Este não é o Erick’. A equipe de psicólogos e psiquiatras me ajudou muito. O preconceito é forte e a família não aceita, mas a minha vontade me fez enfrentar as dificuldades”, contou o rapaz, de 21 anos, que trabalha em uma cafeteria.