«Estava escuro e abafado. Me senti, sufocada, isolada, sem saída, com medo». O relato é da iguaçuana J. M., 38 anos, vítima de violência doméstica. É desta forma que ela descreve a exposição «Feminicídio: dando luz ao tema», que acontece na Coordenadoria de Políticas para Mulheres, em Nova Iguaçu. O objetivo da ação é justamente causar no visitante a sensação vivida por mulheres violentadas e promover uma reflexão sobre o tema.
A mostra foi montada em uma sala escura e os visitantes usam uma lanterna para se andar pela . Dentro dela, um labirinto com camisas brancas com frases de mulheres que vivenciaram a violência doméstica. A última delas, sem nada escrito, mas com manchas de sangue e marcas de tiro, é a que causa o maior impacto no visitante. Há ainda uma mesa com objetos que remetem à violência contra a mulher como, por exemplo, revólver, tesoura, garrafa de vidro, vidro quebrado, esmalte e batom vermelho. Uma voz masculina cita frases de agressores para tornar a experiência ainda mais realista.
«Queríamos criar um ambiente que causasse angústia e trouxesse um pouco da sensação do que as mulheres vítimas deste tipo de violência passam. Todas as frases, tanto nas camisas quanto no áudio, foram relatadas pelas mulheres atendidas pelas nossas psicólogas», explica Miriam Magali, coordenadora de Políticas para Mulheres de Nova Iguaçu, órgão ligado à Secretaria Municipal de Assistência Social.
A exposição é inspirada em um trabalho realizado por alunos do Ensino Médio de Curitiba que abordou a temática da violência contra a mulher. O público-alvo são pessoas comuns que nunca vivenciaram a experiência traumática e que, se não denunciada, pode levar a vítima à morte. Mulheres atendidas da coordenadoria colaboraram na confecção do material exposto.
«A frase que mais me chocou e com a qual me identifiquei foi ‹Dessa vez eu tive medo›. Eu já havia sido agredida inúmeras vezes, mas na última delas eu sabia que seria fatal», recorda J. M., que chegou a ter o corpo banhado com gasolina pelo ex-marido. «Ele realmente iria tornar real o feminicídio».
«Das dez frases, pelo menos nove se encaixam no que vivi. E os áudios mexeram muito comigo, ouvi todas aquelas frases do meu ex-companheiro», relata D. A. T. S. 32 anos. «A mulher que sofre violência demora a se identificar como vítima. Se eu tivesse percebido desde o início, não teria sofrido por nove anos».
G. R., 31 anos, explica que a mulher demora a perceber que é vítima, pois acredita que o companheiro vai mudar. «Nosso consciente acredita muito que não vai fazer mais. Somos manipuladas o tempo todo. Ele finge mudança, mas será sempre um agressor».
P. L. R., outra vítima, também demorou a se enxergar desta forma. «Ele me agredia, mas logo depois me abraçava e pedia desculpas. Mas na última vez eu tive muito medo, pois ele me segurou e disse ‹olha para os lados, não tem ninguém. Desta vez eu te mato›», lembra. «Não somos só nós, mulheres vítimas da violência, que precisamos de acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Os agressores também. Eles são as pessoas doentes».
A mostra vai até a próxima quarta-feira (11) e acontece das 9h às 17h. A Coordenadoria de Políticas para Mulheres fica na Rua Terezinha Pinto 297, 3º andar, Centro de Nova Iguaçu.