Aos 62 anos, Luciana de Carvalho lembra, com muito orgulho, de sua trajetória no HGNI
Mulher negra, que viveu em uma comunidade na Baixada Fluminense, superou inúmeros obstáculos ao longo de sua trajetória profissional e continua a vencer na vida. Assim pode ser definida Luciana de Carvalho, de 62 anos, a mais nova médica do Hospital Geral de Nova Iguaçu (HGNI), considerado por ela como sua segunda casa. Afinal, 26 deles foram trabalhados na área da enfermagem. Em julho de 2021, ela se formou em medicina e, agora, começa a escrever um novo capítulo de sua história dentro da unidade.
Atendendo agora no setor de emergência, de segunda a sexta-feira, e também desempenhando funções de gerenciamento no centro cirúrgico, Luciana lembra, com muito orgulho, de sua trajetória no HGNI. Ela chegou em 1995, como instrumentadora cirúrgica e auxiliar de enfermagem. Pouco tempo depois, Luciana se tornou técnica em enfermagem, atuando em praticamente todos os setores da unidade. Em 2004, iniciou sua graduação em enfermagem, concluindo a formação quatro anos depois, no Centro Universitário Celso Lisboa. Trabalhou como enfermeira até 2013, quando surgiu o convite para assumir a Superintendência de Enfermagem. Dois anos depois, inicia seus estudos em medicina, conciliando o perfil de gestora ao de estudante.
“Foi um grande desafio. Chorei muitas das vezes, certa que desistiria. Cansaço, idade e responsabilidade pesavam. Mas graças à equipe maravilhosa que eu tenho aqui no HGNI e à minha família, que sempre me amparou, eu consegui me formar em medicina. Foi difícil, mas venci”, conta ela.
Optar pela formação em medicina aconteceu no momento mais difícil da vida pessoal de Luciana. Mãe solteira na época, ela perdeu seu único filho, assassinado. Com isso, qualquer tipo de sonho foi interrompido brutalmente. Seus colegas de trabalho do HGNI a incentivaram a voltar a estudar para tentar amenizar a dor. Foi aprovada no vestibular e iniciou a graduação em medicina, em 2015, pela Universidade Nova Iguaçu (UNIG).
“No início da formação, eu não tinha motivação. Só tristeza. Mas percebi que poderia ser útil aos jovens e mães dos jovens que poderiam passar pelo que vivi. Isso me incentivou a continuar fazendo medicina. A situação envolvendo meu filho me fez perceber que eu poderia ser um ser humano melhor para reproduzir dentro do meu trabalho o amor, a fé e caridade que faço até hoje”, recorda ela.
Apelidada carinhosamente como Vovózona pelos colegas de universidade, Luciana também enfrentou situações complicadas. Sem condições financeiras, ela estudava com cópias de livros. Isso chamou a atenção do amigo e incentivador Joé Sestello, hoje diretor geral do HGNI.
“Um dia, o Joé me perguntou como eu fazia para estudar e eu disse que era através das cópias das páginas de livros, pois não tinha condições de comprar os livros. Então, ele me presenteou com meu primeiro livro, e me pediu para estudar nele. Joé sempre me incentivou a seguir em frente. Tenho um carinho enorme por ele e por toda a equipe do HGNI”, diz emocionada.
O caminho dos estudos não vai parar para Luciana. Ela quer fazer duas especializações médicas, sendo a primeira em cuidados paliativos. Tem interesse também pela psiquiatria.
“Escolhi me candidatar para cuidados paliativos porque, se nós juramos salvar vida e cuidar de vidas, temos que ajudar a quem, ao longo da vida, adquiriu alguma doença que a afasta da sociedade e do convívio da família, como o HIV, câncer e outras patologias. Quero cuidar e dar dignidade, apreço e carinho ao paciente e seu familiar”, explica ela. “Já a psiquiatria me ocorreu durante um estágio, ao abordar um paciente que tinha aproximadamente 20 anos que pedia socorro. Isso me chamou a atenção. Após a pandemia, quero poder cuidar dos casos que surgirem”.
Entre dificuldades, superações e apoio de todos ao redor, a médica tem grandes planos para a carreira, mas sem jamais se esquecer de suas origens, quando morava em Nova Iguaçu, em uma comunidade que hoje faz parte de Mesquita, e guarda com muito amor a enfermagem.
“A enfermagem me proporcionou ser médica. Está dentro do meu coração. Graças a ela que eu posso me imaginar sendo uma médica ativa, e, se Deus quiser, praticando o amor, a confiança ao próximo e fazer o bem sem olhar a quem. Esse é o meu mais sincero desejo” concluiu sua história pessoal e profissional, Luciana de Carvalho.
Fotos: Renato Fonseca/PMNI