O secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira, recomendou ontem (24) que o governo federal organize um esquema geral de aquisição de vacinas para os próximos cinco anos, de modo a evitar problemas com o fornecimento de doses à população. Wanderson Oliveira participou hoje de audiência da Comissão de Seguridade Social e Família sa Câmara dos Deputados, na qual especialistas debateram o reaparecimento de casos de sarampo ao país neste ano.
Com a identificação de casos da doença, o Brasil perdeu o certificado de país livre do sarampo, como ocorreu com o Reino Unido e a Grécia.
“Temos um pacto produtivo robusto, mas ainda insuficiente para a necessidade do Brasil. Historicamente, trabalhamos no âmbito do Programa Nacional de Imunizações com uma lógica na rotina. E temos que trabalhar em três lógicas diferentes: um é a rotina, a outra é a extra-rotina e a outra é a emergência em saúde. Rotina é a atualização das coortes: ‘eu vou nascendo, envelhecendo e vou tomando a vacina de acordo com minha faixa etária. A extra-rotina são aquelas doses que eu tenho que ter disponíveis para campanhas, para intensificação da vacina, bloqueios e tal.’ As emergências são as situações emergenciais que fogem [ao padrão]”, explicou.
“Nós recebemos o Programa Nacional de Imunizações sem estoques estratégicos. E não tem como ter produção de vacina sem um ano e meio, no mínimo, de previsibilidade. Então, se não tivermos um programa de previsibilidade, de produção de imunobiológico para, pelo menos, cinco anos, vamos continuar patinando”, acrescentou o secretário. Para ele, o Brasil sofre de uma “carência” de insumos relacionados às vacinas, como seringas.
Durante sua apresentação na audiência, a presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Gulnar Azevedo e Silva, enumerou pontos que podem estar contribuindo para a atual prevalência do sarampo no país. Nos últimos 90 dias, foram confirmados 6.192 casos da doença em todo o país, conforme dados divulgados pelo Ministério da Saúde na semana passada.
Segundo Gulnar, os postos de saúde precisam adotar medidas como horário estendido de vacinação para que se garanta a cobertura ideal. Ela afirmou, ainda, que o governo precisa adaptar a comunicação à atualidade, utilizando, por exemplo, o Instagram.
Gulnar ressalta a a necessidade de reiterar, nas mídias sociais e outros meios de comunicação, que a vacina é uma forma de proteção à saúde. “Isso é muito mais importante do que a gente se preocupar com o movimento antivacina. A população brasileira responde à questão da vacina, mas a gente tem que chegar a ela. A informação não está chegando”, afirmou.
Em sua fala, Gulnar destacou que o governo não deve reduzir as verbas para a pasta da Saúde, argumentando que “a austeridade mata”.