Até o momento, o Brasil já registrou mais de 8 mil mortes por Covid-19. Além de ter que lidar com a perda dos entes queridos, milhares de famílias estão sendo privadas da despedida dos seus parentes, uma vez que os protocolos dos enterros e funerais estão sendo desrespeitados em virtude da doença. Os sepultamentos estão sendo feitos às pressas sem a realização de velórios, o que vem sendo duramente criticado pela Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (ABREDIF), que faz uma apelo às autoridades na revisão das aplicações das normas impostas ao setor.
Atualmente, pelas regras adotadas pelas vigilâncias sanitárias estaduais apenas dez pessoas têm a oportunidade de enterrar seu parente vítima do vírus, mas com o caixão fechado. Entretanto, o presidente da ABREDIF, Lourival Panhozzi, ressalta que essa regra não vem sendo respeitada e que em muitos estados os corpos estão sendo enterrados sem as famílias terem ao menos a oportunidade de dizerem o último adeus.
“A formulação do plano de contingência precisa se atentar ao um quadro mais severo da crise sanitária, mas neste momento erramos em um ponto: estamos executando medidas mais duras antes mesmo da emergência. O país, ainda, não vive o pico de mortes, como na Itália e em outros países da Europa, mas os estados estão tomando medidas mais severas na realização dos rituais de enterros e velórios”, revela.
Ainda de acordo com Panhozzi, não há motivos para a adoção do protocolo de sepultamento direto da vítima da Covid-19, tendo em vista que os corpos estão sendo acondicionados em dois envoltos dentro de uma urna totalmente selada. “Neste caso, a realização do velório não ofereceria riscos de contaminação aos parentes”, afirma.
Já outro ponto criticado pelo presidente da ABREDIF são os protocolos para enterros dos corpos. Segundo Lourival, todas as agências funerárias criaram um protocolo “veloz de enterro”, como por exemplo em Manaus que não está dando conta dos sepultamentos, o que levou a um aglutinamento. Em apenas um dia a capital recebeu cerca de 140 caixões.
“Esse protocolo, que todos adotamos, em levar o corpo correndo para o cemitério está errado. O que devemos fazer é avisar antes os cemitérios sobre os enterros que serão feitos e assim eles terão tempo para se preparar. O problema de Manaus dá para se resolver em 48 horas, e dividir os 140 enterros em oito horas: em média teremos 18 sepultamentos por hora”, aponta.
Contra sepultamentos noturnos
A realização de sepultamentos noturnos em algumas capitais do Brasil também tem sido alvo de críticas por parte da ABREDIF. De acordo com a entidade, a norma desrespeita o protocolo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que preza pelo respeito e dignidade às famílias que têm perdido entes queridos vítimas da covid-19.
O município de Boavista, em Roraima, é um exemplo desta situação. Lá, a Vigilância Sanitária tem exigido que sepultem à noite. Já em Manaus, já teve dia que foi preciso de ajuda de refletores para iluminar sepulturas e máquinas.
De acordo com o presidente da ABREDIF, Lourival Panhozzi, decisões equivocadas de governos têm obrigado famílias, na escuridão, cercadas pelo medo, sepultarem seus entes queridos, sempre em silencio, na mais profunda tristeza. “É preciso manter um mínimo de dignidade e respeito, tanto pelos que estão falecendo, quanto pelo seus familiares. Uma sociedade que perde sua sensibilidade e padrões sociais, que sustentam todas as relações de convivência, é uma sociedade morta”, ressalta.