Na próxima semana, uma dupla de alunos da Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Pena, vinculada à Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), irá participar do “ETA Festival!”, um concurso de INsquetes de teatro acessível organizado pela Escola da Gente, que promove cultura de forma acessível e inclusiva. O evento é direcionado a pessoas com deficiência e acontece entre os dias 19 e 22 de setembro, com apresentações online de cenas curtas.
Uma das participantes do festival é a Analú Faria, a atriz formada pela Martins Pena é cega e desde os 13 anos supera os obstáculos impostos a quem possui algum tipo de deficiência. Além de atriz, ela é também acrobata, trapezista, e formada em educação física. Analú conta que participou do processo seletivo para ingresso na Faetec em 2019 e foi aprovada apesar do medo de não conseguir entrar.
“Um amigo me encheu o saco para fazer a prova da Martins Pena. Eu fiquei muito receosa porque achava que não ia conseguir entrar, mas acabei fazendo a prova, entrei e concluí a Martins Pena em 2022. De 2019 até 2022, eu estava envolvida com a Martins Pena e com a Faetec e agora estou seguindo meus caminhos com o circo e com o teatro”, explicou a atriz de 47 anos.
O ETA Festival pode ser descrito como uma mostra competitiva de cenas curtas que, além de entregar um conteúdo plenamente acessível, também oferece qualificação aos artistas participantes, por meio do Workshop Educativo “Sem Acessibilidade a Arte Contemporânea Não Vive”. Todas as esquetes inclusivas apresentadas, as chamadas INsquetes, precisam ter, obrigatoriamente, audiodescrição, Libras e legendas, além de abordarem temas relacionados à diversidade, inclusão e direitos humanos.
O objetivo é levar acessibilidade não só a pessoas com deficiência, mas a todos que dependam de acessibilidade, como pessoas idosas; analfabetas; com transtornos de neurodesenvolvimento, baixo letramento, crianças; e mulheres grávidas, entre outras condições humanas e sociais.
Tendo ainda formação em circo, Analú irá competir no ETA Festival com uma cena unindo as duas paixões: o circo e o teatro.
“Fui selecionada recentemente para esse festival e decidi me desafiar como palhaça, que é algo que eu havia feito um tempo atrás, quando fui convidada para participar de uma escola de palhaço. Eu me encanto com a palhaçaria, mas deixei essa paixão guardadinha na gaveta e agora decidi apresentar uma cena de palhaça, só que em cima de um trapézio”, concluiu.
Ao final da competição, uma premiação equivalente a 50 mil reais será distribuída entre dez prêmios e oito categorias, sendo elas: Melhor Insquete; Melhor Insquete voto popular; Prémio Especial do Jari; Melhor Direção; Melhor Dramaturgia; Melhor Atuação; Melhor Conjunto Visual (iluminagéo/fotografia, figurino, cenário e adereços); e Melhor Trilha Sonora. Todas as etapas podem ser acompanhadas pela página do evento: www.etafestivalacessivel.org.br.
E Analú não é a única participante oriunda da Faetec. O Nitai Raynsford, de 27 anos, também estuda na Martins Pena e se sobressai diante das limitações estabelecidas por uma deficiência no sistema osteomuscular. O jovem também foi selecionado a participar do ETA Festival e contou sobre a cena que irá apresentar na competição.
“O esquete que estamos produzindo junta a minha experiência de vida sendo uma pessoa com deficiência com falas que ouvi por ter essa característica. E traz uma reflexão sobre o porquê não vemos pessoas com deficiência nos palcos e nas mídias, e ao mesmo tempo explícita o capacitismo existente no meio artístico”, explicou.
E falou ainda sobre sua relação com o teatro e com a Faetec, agradecendo também aos colegas de cena. “Sempre fui apaixonado por teatro, estar na Martins é a possibilidade que tenho de estudar e fazer teatro. Não posso deixar de falar sobre a música, que sempre me acompanhou nessa trajetória, e que junto com o teatro passaram a representar para mim um lugar de liberdade, uma forma de organizar o que eu sentia e pensava e de expressar isso. Durante a produção, me deparei com algumas questões que quase me travaram, e só foi possível criar esse esquete graças às pessoas maravilhosas que estão comigo, Bea Simões, Eduardo Mazeliah e Fernando Rocha, que deram tudo de si, coloriram e deram vida pra cena, tornando o processo leve e divertido”, concluiu o ator.