A Comissão de Direitos Humanos e Cidadania, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), recebeu nesta quarta-feira (29/09) Camily Apolinário, ferida em ação policial na comunidade do Chapadão, favela de Anchieta, bairro da Zona Norte da capital e parentes de William Vasconcellos da Silva e de Samuel Vicente, mortos na operação. Camily e a mãe, Maria do Carmo da Silva, serão encaminhadas ao Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas do Estado (Provita-RJ).
A presidente da comissão, deputada Dani Monteiro (PSol), afirmou que os relatos ouvidos durante o atendimento ajudaram a compreender a dinâmica dos fatos. Ela cobrou rigor na apuração do caso. Segundo narrou a parlamentar durante a coletiva de imprensa, os jovens estavam em uma festa e a comunidade estava tranquila naquele momento. Camily passou mal e William, seu namorado, chamou Samuel, padrasto de William, para ajudá-lo a levá-la de moto a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Relatos dão conta que não houve um pedido para parar.
“É inadmissível que o Estado autorize o assassinato de pessoas negras, apenas por estarem em uma moto. Os policiais atiram primeiro e perguntam depois. Favelado não pode andar de moto? Os policiais precisam ser afastados e julgados. Não há fé pública nesse caso. Testemunhas relataram da mesma forma, não houve nem tiro para o alto”, disse a deputada.
A mãe de Camily disse acreditar que, ainda que tardiamente, o Poder Judiciário irá condenar os responsáveis. E demonstrou receio com a segurança a filha.
“Samuel, William e Camily não são bandidos nem traficantes, e não estavam fazendo nada anormal. A Polícia trabalha com achismo ou com certeza? Para que recebem treinamento? Implantaram terror na vida da minha filha. O sorriso que vocês veem na internet não existe mais, ela tem medo até de ir ao portão”, contou.
Sônia Bonfim Vicente disse que, diferentemente do que foi noticiado pela imprensa, não havia baile funk na comunidade no dia da ação. Ela questionou a ação e revelou o desalento diante da tragédia de perder o filho e o marido. “Levaram meu coração e meu útero. Quero os pertences do meu marido e do meu filho. Onde estão a chave do carro, as identidades, o documento da moto e o celular do meu filho? Que bandido compra moto no próprio nome? Perdi meu marido provedor, fiquei com duas filhas, uma de quatro e uma de oito anos”, afirmou.
Caso está sob investigação
O caso foi registrado e está sob investigação na 27ª Delegacia de Polícia (Vicente de Carvalho). Segundo informações divulgadas pela Polícia Militar, os agentes estavam em patrulhamento na Rua Alcobaça, em Anchieta, quando foram atacados a tiros. O objetivo do patrulhamento seria coibir o roubo de carga e de veículos. A corregedoria da corporação também abriu processo administrativo para apurar os fatos.